Ficelas e Pegadinhas

Por Raul Oliveira13/06/2008

O vasto vocabulário do poker inclui diversas expressões e gírias utilizadas por seus praticantes, seja no poker on line quanto no ao vivo. Hoje vou falar da “FICELA”. Que em outras palavras seriam gestos e palavras utilizadas durante uma mão no intuito de confudir seu adversário. Ocorre apenas no poker ao vivo, já que não existe a possibilidade de ser utilizada no on line pela falta do contato físico. Não considero a demora pra apostar ou a demora pra pagar como forma de ficela, no ao vivo ela se torna uma arma que em varias vezes causam polemicas mas em outras geram bastante fichas. Isto porque dependendo da forma que é utilizada não é vista com bons olhos pelos outros jogadores. Coisas do poker ao vivo, o jogo de cartas torna-se também um jogo de gestos e palavras, que muitas vezes tem mais força do que as próprias fichas apostadas.

Alguns jogadores famosos falam durante todo um torneio, Matusow, Phil Helmult e Daniel Negreanu, são alguns casos famosos de jogadores que usam a palavra como arma durante os torneios. Nos dois primeiros casos mais em forma de intimidação, normalmente questionando e até em certas vezes ofendendo os adversários, já Negreanu usa a arma para obter informações, até perguntar a nacionalidade dos jogadores o influencia em suas decisões. Outro exemplo clássico foi o Jamie Gold que simplesmente falou em todas as mãos que participou no WSOP 2006 em que levou o título. A “ficela” bem utilizada pode ajudar bastante na maximização das mãos e no sucesso de um blefe. Com certeza não é um fator determinante para ser m grande jogador live, mas conheça-la não custa nada.

Agora penso que para utilizá-la é muito importante se ter uma leitura do adversário durante a mão, já que vai ser baseada nela que você se utilizará das palavras. Um ponto complicado nessa historia é até que ponto entra à ética do jogo na questão.

Em alguns casos “ficelas” causam confusões nas mesas, um exemplo que presenciei num money game e que gerou bastante polemica foi o seguinte: Jogador 1 abriu raise $30 preflop, 2 outros pagaram, abriu o flop com 3 cartas de copas, jogador 1 deu bet $30 e os demais acompanharam a aposta, no turn uma carta preta sem dobrar nenhum par no bordo, jogador 1 deu mesa, o seguinte apostou 130, tomou call e all in 600 do jogador 1. Enquanto os jogadores decidiam o que fazer o jogador 1 começou a pedir mais ficha, outro cacife para continuar jogando na próxima mão, ou seja, subentendendo aos demais que sua mão não era tão boa assim, que estaria perdendo aquela parada, o que levou aos demais a pagarem seu allin. Não havendo mais fichas na frente de ninguém, todos abriram seus jogos antes da virada do river, quando o jogador 1 abriu A5 de copas (nut flush no flop) a mesa inteira reagiu, achando um absurdo aquela atitude.

Por isso sempre sou a favor de regras bem estipuladas em todos os tipos de jogos de hold’em, para que em situações como essas ou todos possam falar o que quiser ou ninguém fale nada ou caso fale as punições estabelecidas sejam adotadas. Particularmente prefiro a regra utilizada pelos grandes sites do poker que durante um all in não permitem comentários nos chats. Acho que o hold’em já é jogo muito bonito pelos seus próprios méritos e que atitudes como essa tiram um pouco do charme do jogo.

Mas apesar da minha opinião, em Lãs Vegas, por exemplo, vale falar durante as mãos e por isso, ter essa arma como uma carta na manga em algumas situações pode ajudar bastante. Agora por experiência própria aconselho utilizar algo do tipo quando quiser ser pago, pelo que já vi ao longo dos anos qualquer tipo de fala durante o “time” do adversário acaba induzindo-o a pagar seu bet. Claro que isso não é uma regra e você também pode “ficelar” durante um blefe, mas na maioria das vezes funciona quando se quer tomar call.

Então o conselho que deixo aqui é: caso tentem fazer isso com você durante uma mão decisiva, não tente decifrar “pegadinhas”, respire fundo volte à jogada até o pré-flop raciocine e ai sim tome sua decisão, se deixar levar por comentários durante a mão na maioria dos casos nos levam a cometer erros.

Artigo publicado na Revista Flop N. 05